Você precisa de algum tempo sozinho? Sente vontade de estar só, num momento de intimidade consigo mesmo? Já pensou na solidão como algo bom? Conversemos sobre isso...
A Solidão pode ser compreendida como um sentimento e como o estado de “estar só”. Portanto, para falarmos sobre isso, duas perspectivas devem estar claras: "O sentir-se só" e o "Estar só".
O Sentir-se Só
O sentimento de solidão é amargo, angustioso. Quando nos sentimos solitários, tudo fica acinzentado, tudo perde a graça. É como se estivéssemos presos no compartimento de carga de um navio fazendo um Cruzeiro, repleto de festas e lazer, mas só podemos olhar pela escotilha, vendo todas aquelas pessoas felizes, quando estamos presos num lugar fechado e escuro.
Quando o nosso coração se encontra assim, nublado, solitário, é como se a vida passasse por nós, linda e alegre, sem podermos tocá-la. Mas, muitas vezes, nós mesmos nos prendemos neste compartimento de egoísmo, de retração. Nos isolamos, trancamos a porta do nosso coração e ficamos esperando que alguém venha e a arrombe, sendo que seria tão mais fácil se ela já estivesse aberta.
Nos diz William Shakespeare: “Se você se sente só, é porque ergueu muros ao invés de pontes.”
Quando erguemos muros em torno de nós, nos prendemos numa solidão que nos isola das alegrias da vida, sendo que se contruírmos mais pontes, nos abriríamos a uma reciprocidade de afeto, carinho e amor e não nos sentiríamos mais solitários.
O Estar Só
Estar sozinho muitas vezes acarreta o sentimento de solidão. Aquelas pessoas acostumadas a viverem cercadas por familiares e amigos, quando se encontram numa situação de “estar só”, não sabem lidar com este momento tão importante e essencial à vida, e sentem-se solitárias, abandonadas, isoladas.
Patrícia Tudor nos diz: “Sob hipótese alguma, é preciso estar solitário quando se está sozinho.”
Nunca estamos solitários, pois sempre estamos conosco mesmos. E é esta a oportunidade que devemos aproveitar para nos avaliarmos e nos posicionarmos melhor frente às coisas da vida. Momento de parar e indagar: "Quem sou eu? O que faço ou como faço aqui neste mundo?
É de extrema importância para o ser humano, que por vezes fiquemos sós, para experimentar este encontro íntimo conosco mesmos, a fim de também nos conhecermos, de "mergulharmos" naquelas áreas do nosso “eu” em que só Deus e nós conhecemos. Mas como fazer para ouvir a voz do coração, que nada mais é que a voz do próprio Deus que nos fala, se nós não nos permitimos um momento a sós e que pela correria cotidiana, abafamos esta voz?
Buscar se conhecer a cada dia mais, aprofundar-se em si mesmo é algo saudável, pois muitas vezes, como dizia a poetisa Clarice Lispector:
"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois também sou o escuro da noite."
Do nosso “estar só” é que muitas vezes tiramos forças para lidar com situações que aconteceram e que ainda irrompem em nossas vidas. Nesta fragilidade e necessidade da essência e da vida humana, brota a coragem para seguirmos em frente. Nos diz Paulo, em sua carta à comunidade de Corinto: "Quando sou fraco, então é que sou forte". E a solidão por vezes nos confere esta fraqueza (necessária) que acaba se tornando o nosso despertar para a vida.
Só não podemos nos perder nesta fraqueza e nos entregar à solidão eterna, pois também é vital e até primordial que valorizemos a presença amiga, a presença que agrega cumplicidade, comunhão. Estar a sós é essencial, mas estar em comunidade também o é. Se nos fecharmos numa relação individualista, aí o “estar só” se transforma em sentimento de solidão, o que não deve acontecer. David Saleeby fala sobre isso em um de seus pensamentos:
“A maior solidão é aquela que se dá não pela ausência de pessoas, mas pela indiferença da presença delas.”
Quando pensamos que não precisamos dos outros, que conseguimos viver conosco mesmos, nos fechando num núcleo particular em que só me entendo comigo mesmo, é perigoso. Podemos e devemos sim ficar a sós, gostar de estar a sós, mas não podemos deixar de viver, de CONVIVER. Caso contrário, experimentamos um egoísmo destrutivo e uma solidão que machuca.
Vinícius de Moraes nos fala sobre esta perigosa solidão:
A Maior Solidão
"A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo.
Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete.
Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre."
Saibamos estar sós para melhor convivermos.